terça-feira, julho 07, 2009

Rico Sequeira



S/Título
Técnica: Serigrafia
Dimensões:33x49cm
Série:HC 11/20
1999

Rico Sequeira nasceu em 1954, e vive e trabalha em Lisboa e no Luxemburgo. Desde há vinte anos que a sua obra é apresentada em exposições individuais em Portugal, no Luxemburgo, na Alemanha, França, Bélgica, Espanha, Suíça e Suécia.

Curiosamente, é uma obra sugerida pela banda desenhada. «Tudo está ligado às pranchas de BD que fui adquirindo ao longo dos anos. Elas mostram-me o caminho da revelação dos sinais pictóricos.» Rico Sequeira tem uma impressionante colecção de originais de BD, reunindo trabalhos de autores como Bud Fisher ou George McManus, mas desvaloriza o valor material da colecção. «A pergunta não é o que elas valem, é o que elas me influenciam no meu mundo plástico, no meu mundo do desenho, como se fosse um impulso imediato de uma matriz interior do próprio ser».
Esta ponte de ligação entre a banda desenhada e a pintura é uma ponte original. O caminho tradicional que une as duas paragens é aquele que identifica a banda desenhada como arte menor.
O resultado final desta influência revela-se em mais do que um caminho. «No meu mundo plástico, pelo modo e ordem do seu fazer, o desenho opõe-se à pintura. Nesta exposição coabita pintura e desenho, e que eu intitulei SILÊNCIO E CHOQUE.» A exposição foi apresentada na Galeria Municipal Artur Bual, por ocasião da edição de 2003 do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA), juntamente com muitos dos originais de BD que inspiraram o trabalho do autor. A exposição acaba por revelar mais do que aquilo que o autor confessa: «Como pintor, falar do meu trabalho, tenho a sensação de que me deixo levar por explicações inúteis. As verdadeiras razões devem permanecer misteriosas, porque existem coisas que se devem dizer e outras que não devem ser reveladas. Mesmo quando tento ligar o meu pensamento ao do desenho, que é uma espécie de alquimia dos sentidos que se irá manifestar como uma combinação de sinais pictóricos, porque o meu mundo intriga-me: o circular de histórias, disfarces das formas, o prazer de contradizer, a felicidade de estar contra todos, a alegria de provocar, de brincar com as cores, dão-nos poder de acreditar numa maneira utópica privada. Graças à pintura, posso partilhar a minha solidão, mas, como diria Duchamp, a pintura atrasa-se. O gesto de pintar faz-se numa situação idiota animalesca, não por ter menos interesse, mas porque o desenho nasce junto ao pensamento, é um exercício de liberdade exemplar do seu próprio gesto. Pelo contrário a pintura, que igualmente intervém sem todavia contaminar ou invadir esse primeiro campo, é como uma marca de prazer, de saturação, uma maneira de tentar descobrir o significado de um mundo confuso. Isso dá-me algo para fazer enquanto estou a morrer e assim sou capaz de sentir o infinito sob todas as suas variações.»
É a projecção para além da dimensão individual: «Para mim, o desenho funciona como uma forma primeira de compreender e sobretudo aprender o mundo.» Ou, numa outra perspectiva, «Os meus desenhos são como companheiros do silêncio e choque. Heróis de BD.»

PEDRO MOTA

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