quarta-feira, setembro 23, 2009

Arte nella Natura - Anne Demijttenaere


Arte na Natureza


O que é raro tende a ser precioso e os bosques, as florestas são assim transformados numa raridade.

Alguns estados protegem-nos, vinculando-os com leis e criando parques.

Os artistas podem fazer melhor, dando-lhes uma dimensão de carácter sagrado transformando-os em obras de arte.

Para me relacionar no meu trabalho de artista com o território onde vivo, em 1994 concebi a ideia de criar um percurso de obras de arte em dois hectares de bosque da minha propriedade na Forra della Valle del Treja em Calcata (Itália). E comecei a realizar obras de Arte na Natureza.

A primeira intervenção de arquitectura da paisagem em OPERA BOSCO foi a de criar a viabilidade que com a técnica utilizada se relaciona com as origens da arquitectura, com os seus arquétipos, que nascem mesmo pela necessidade de transitar no território: caminhos, degraus e pontes são as mais antigas intervenções de arquitectura paisagística.

À medida que abria um caminho, fazia crescer um monte de material cortado que empurrava à minha frente. Foi pela necessidade de utilizar o monte de material extraído da abertura do caminho que realizei a primeira obra, um ninho de quatro metros de diâmetro. Momento revelador que me fez vislumbrar o Bosco (bosque) como um conjunto constituido pela obra e pelo local que contém as obras de arte. OPERA BOSCO nasce de modo dinâmico, activo, intervindo directamente no terreno, sem projecto em papel a ter em conta. É uma costante no meu trabalho, não faço raramente projectos em papel, confronto-me directamente com o território que acompanho e do qual obtenho motivos em seguida para a realização das obras. É a própria morfologia do território que me sugere a intervenção.

Uma vez traçada a viabilidade comecei a experimentar os materiais e a realizar obras sugeridas pelas diferentes situações.

Após cerca de dois anos de trabalho, em Outobro de 1996 OPERA BOSCO Museu de Arte na Natureza foi inaugurado com um percurso de 40 trabalhos entre obras e instalações realizadas em grande parte por mim e por Costantino Morosin que realizou algumas grandes obras esculpidas em rocha de tufo e com a participação doutros onze artistas.

Em 1997, pelo seu padrão de qualidade, OPERA BOSCO torna-se num Museu de Competência da Região do Lácio. É o único museu de Arte Contemporânea da Província de Viterbo e o único Museu ao ar livre da Região do Lácio.

A chave do método na realização das obras é alargar o conceito de estética ao ecossistema. Obras de arte biodegradáveis, realizadas exclusivamente com os materiais naturais em bruto da natureza, deixadas a viver e a deteriorarem-se em simbiose com a paisagem e o ambiente onde nascem.

Um sistema integrado portanto onde a natureza e obras interagem formando uma obra de conjunto explicitando as perspectivas e o potencial duma sociedade ecologicamente orientada.

Um bosque onde o ambiente natural e as obras são um exemplar único inseparável, uma realidade onde o particular estético está sempre em sintonia com a sua ambição artístico-ecológica. Um Museu-laboratório ao ar livre, permanente, onde o alfabetismo icónico reclama os arquétipos originais com obras que exprimem uma realidade que não deixa distância entre o que afirma e o que é.

Um método onde o momento da realização é tão importante quanto a obra terminada. Um modelo de processo produtivo não poluente, extensível a todas as actividades da nossa sociedade.

Nestes treze anos de actividade elaborei um know-how original que me permite hoje projectar novos itinerários em evolução, que valorizam cada vez mais a especificidade e as peculiaridades do território e aprofundam a pesquisa dum modelo de relação simbiótica através do ser humano e a natureza. Un exemplo concreto de actuação da cultura da “simbiose” entre a actividade humana e a natureza que, com a capacidade de síntese da arte, realiza obras de forte impacto comunicativo que afirmam a cultura ecológica e que pode implementar a criação de uma rede de obras de arte entre os Parques de todo o mundo evidenciando as caracteristicas de cada um deles com uma identidade própria.


Tendência da História da Arte na Natureza

“Paul Césanne, que tinha a intuição de que século XX seria caracterizado por uma forte expansão da tecnologia criando uma nova e oblíqua distância entre o homem e o ambiente natural, entre imagens costruídas e paisagem, interrogava-se em que se tornaria a natureza para o artista.

Argumento que hoje se revela decisivo não só para o mundo das imagens, mas também para toda a cultura contemporânea.

A relação entre o trabalho criativo dos artistas e a natureza, conta hoje com uma área produtiva de pesquisa que não é apenas formal. Com efeito, existe uma nova “cultura da natureza”, consciente dos danos provocados pelo crescimento tecnológico que não respeita o habitat entrópico e ao qual um punhado de artistas dão um contributo, não arcaico ou contemplativo, mas activo, desenvolvendo uma atitude reflexiva, propositiva.

Joseph Beuys põe de sobreaviso em que sentido desde os anos sessenta e quando planta os seus sete mil carvalhos, em Kassel em 1982, lança um sinal de ruptura sobre a necessidade de uma mudança no espaço da arte.

Já não se trata de pôr em confronto a energia do “belo” e do “sublime” natural com estratégias produtivas e reprodutivas engenhosas, nem de gravar marcas grandiosas de domínio na paisagem, como nos anos sessenta fez a Land Art, nem de musealizar emblemas e fragmentos da natureza, como fazem os autores da arte pobre, mas de estabelecer os termos duma nova dialéctica, de marcar novas diferenças semânticas, activas no plano simbólico e reflectidas no campo social. E alguns artistas não vinculados por anacrónicos programas ou por exasperantes estratégias de promoção, escolhem realizar obras em espaços abertos naturais utilizando apenas materiais do mesmo ambiente.

Estas obras caracterizam-se também por uma diferente disposição em relação ao tempo, que já não é o rectilíneo e sem decrementos, convencional da história da arte, mas aquele, vitalmente perecível, das estações e das mutações naturais.”

Interpretado livremente por Vittorio Fagone, “Art in Nature” Ed. Mazzotta 1996.

A convicção de que o ser humano é obrigado a uma atitude de aliança com o seu habitat natural, dado que a sobrevivência de um implica necessariamente a salvaguarda do outro, é quase um dado adquirido universalmente que de qualquer forma encontra grandes dificuldades para se realizar.

Se os governos, empreendedores e poderosos de todo o mundo tivessem ouvido Beuys e se tivessem sido inspirados no modo de se relacionarem com o ambiente como o fazem desde há mais de trinta anos os artistas que se exprimem com obras de Art in Nature não nos encontrariam actualmente nesta situação de “crise” que não é outra senão ecológica, essencialmente provocada pelo colapso do capital natural; que se traduz em penúria de matérias-primas, como o cobre, o urânio, etc., e sobretudo pelo desaparecimento da água, do ar e da comida “limpos” - não envenenados.

E como já no tempo da Bauhaus, onde o contributo dos artistas à didáctica foi essencial para evitar que se uniformizasse ao racionalismo mecânico da tecnologia industrial, a actividade artística “livre” demonstra de novo estar na base da renovação do pensamento, de ser a disciplina que dá o impulso de criatividade a toda a sociedade, em toda a sua forma produtiva, incluindo a dos serviços, da indústria, artesanal e de empresa de qualquer género.


Anne Demijttenaere


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