terça-feira, setembro 13, 2011

Texto da Arlete Silva sobre a vida e a obra de Lourdes Castro




Lourdes Castro nasce no Funchal em 1930. Com vinte anos vem para Lisboa frequentar a ESBAL 1950-56. Inconformada com o ambiente cultural do pais pertence à geração de artistas que, na década de 50, partiram e anos mais tarde fizeram acertar a arte portuguesa com o que se fazia lá fora. Parte em 1957 para Munique, em 1958 fixa-se em Paris e faz parte dos fundadores do KWY que juntava um grupo de artistas emigrantes de diversos países. De 1958 a 1964 editaram 12 números da revista com o mesmo nome.

Estávamos na época da Pop Inglesa, dos Novos Realismos e do culto dos objectos. Lourdes Castro encontrou assim o meio ideal para prosseguir as suas experiências fora da pintura. Começa por cobrir as caixas e mostruários de objectos do quotidiano com tinta de alumínio, utiliza caricas nalgumas peças. Vai esvaziando os conteúdos até chegar ao delinear dos corpos utilizando vários materiais, da tela ao plexiglas, que recorta manualmente e joga com várias placas para atingir o jogo de sombras. Seguem-se as sombras projectadas e os herbários. A partir de 1973 faz o Teatro de Sombras com a colaboração de Manuel Zimbro.

Conheci Lourdes Castro em Paris nos finais dos anos 60 e a sua atitude perante a vida, o seu despojamento das coisas materiais, o proporcionar felicidade aos outros com  pequenos gestos e o seu contacto com a natureza influenciaram profundamente a minha maneira de ver o mundo. As casas onde morou eram lugares mágicos. Recordo  o sótão onde morou em Paris porque, apesar de muito pequeno e nele morarem e trabalharem duas pessoas, a artista e o seu marido René Bértholo, tudo estava devidamente estruturado para as várias actividades do casal. Ao fundo um jardim de vasos, depois uma cama com um lençol bordado com os contornos dos corpos dos dois artistas. Numa parede estava inserida uma pequena mesa tendo desenhadas na parede as silhuetas sentadas do casal. Havia ainda a zona de trabalho de cada um deles. Num armário uma colecção enorme de carimbos.

Regressa à Madeira em 1983 e, com a ajuda do Manuel Zimbro, constrói a sua casa e o seu jardim. Tudo pensado ao mínimo pormenor não esquecendo a pequena abertura no quarto para ver o pôr do sol. Lourdes Castro vive, desde então, no seu jardim com vista para as Ilhas Desertas. Ao longo dos anos fui trazendo um pouco desse jardim para o meu – além de todas as flores madeirenses tenho já uma pitangueira a dar fruto. Na última vez que a visitei ofereceu-me um dragoeiro.

Maria Arlete Alves da Silva


Lourdes Castro was born in Funchal in 1930. At age 20, she moved to Lisbon to attend the ESBAL (1950-56). Disenchanted, at the time, with the country’s cultural milieu, she belongs to that generation of artists which, in the 1950’s, went abroad -  a generation that, years later, would bring Portuguese arts up to par with the rest of the world.
She left for Munich in 1957. Taking up residence in Paris, in 1958, she became a founding member of KWY, which brought together emigrant artists from diverse countries. From 1958 to 1964, they published 12 issues of the self-titled magazine.
It was the time of English Pop, New Realism and the cult of the object. Thus, Lourdes Castro found the ideal medium with which to experiment, outside of painting. She started out coating the boxes and showcases of everyday objects with aluminum paint and applying bottle caps on some pieces. She progressively emptied her pieces of content until all that remained were their contours. To this end, she used an assortment of materials, from canvas to Plexiglas, which she would cut out manually into various sheets that were arranged so as to produce a form of shadow play. This was followed by the projected shadows and the herbariums. As of 1973, she collaborated with Manuel Zimbro in the production of the
Shadow Theatre.

I met Lourdes Castro in Paris in the late 60’s. Her outlook on life, her detached attitude towards material possessions, the way she affords happiness to others through small gestures, and her affinity for nature, profoundly influenced the way I view the world. Her homes were magical places. I recall her Parisian attic, which she shared with her husband René Bértholo. Though it was small and served as a residence and workplace for both, it was appropriately structured for the couple’s various activities. In the back, a “garden” of vases, then a bed with an embroidered sheet portraying the artists’ contours. A small table was inserted into a wall, on which had been drawn the couple’s seated silhouettes. Each had their own separate work area. A cupboard contained an enormous collection of rubber-stamps.

She returned to Madeira in 1983. With the help of Manuel Zimbro, she built her house and garden. All planned out to the smallest detail, including the small aperture in the bedroom, so as to see the sunsets. Lourdes Castro has lived in her garden with a view of the Desertas Islands, since then. Over the years, I’ve borrowed from that garden for my own - in addition to all the Madeiran flowers, I also have a pitanga tree already bearing fruit. The last time I visited, she offered me a dragon tree.

Maria Arlete Alves da Silva

Sem comentários: