domingo, maio 16, 2010

(Sopro Cardíaco) até 23 de Maio de 2010

Execução Aguçada, série flores cardíacas, 2010, fotografia da autoria de Zyber Chema.

Paulo Sérgio BEJu (sopro cardíaco) PAULOSÉRGIOBEJuGALERIADOSPRAZERESABRIL/MAIO2010

As minhas esferográficas servem de bisturis (não cortantes) e operam numa escrita de experiências humanas e artísticas. Os motivos da natureza caem sobre o papel, a requerer uma não flor, não folha, um distinto fruto ou bichos – formando paisagens de um aparelho dramático, interno – referente ao sensório e à emoção. Esbatem-se as disciplinas do desenho e da pintura – conexas – a caneta redescobre o movimento consoante o pneuma do lugar e as memórias do olhar. Arquitecta-se um complexo organismo – volume/escultura - que bordo e colo, descrevendo o que me afecta no passar dos dias. O pintor Júlio Pomar diz que nunca emprenhou pelos ouvidos, mas sim pelos olhos. Os meus suportes bidimensionais estabelecem um contrato com o olhar, na medida em que medeiam o plano pictórico com o condor de um desejo poético procurando a sedução do espectador.

O sopro no coração apresenta-se como uma anomalia no aparelho cardíaco e a exposição (sopro cardíaco) estabelece um parêntesis num percurso anómalo - ensaio de Princípios de Verdade ou Vontade. Divago sobre aquilo que devo comunicar, sobre a importância da «fala» e da arte que se constrói, das suas funções e (in)utilidades. Concepções e ideias já anteriormente tratadas, reanimadas pela maturação das mãos que vêem e o corpo oculta. A corporalidade dos objectos têm por orientação estruturas simples – a cor, a mancha, a luz, o espaço e o movimento – no desdizer do amor, das relações, das partilhas e das coisas que deixamos e imprimimos no Outro. Sinto que a arte é lógica se nos permitir pensar e estremecer a alma através de uma superfície táctil.

Creio que criando, presentifico um universo ancestral. Exercito um respirar depurado sobre o mundo que me rodeia, numa acção do domínio terapêutico. Uma nuvem paira sobre a pele, escondem-se os sinais do tempo, e quase esquecemos a essência do toque. O meu espaço cutâneo destina-se a uma morada feita também de Céu. Este projecto gerou-se pela estranha forma de Estar no mundo, e Ser nos dias que correm, um apaixonado: pela música que nos faz chover (…por dentro), pelo ardor da luz no entardecer, pelo cinema que discorre das veias, pelo teatro da carne humana falando e pelas vozes dos artistas que falam no sublime.


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