quinta-feira, fevereiro 17, 2011

"O desaparecimento do mundo real" até 27 de Fevereiro de 2011


Janeiro de 2010

Antiga aluna da Ecole normale supérieure, formada em História da Arte, Eloïse Lièvre tem participado na elaboração de catálogos de vários artistas – cf. http://www.eloiselievre.fr/critique/

Uma vez que se deve falar, escrever, revestir com palavras, sachar e descrever, neste caso, convém levar em consideração, em primeiro lugar, a técnica utilizada, além de sua intrínseca melancolia, de seu aspecto «inundado com lágrimas»: Marc Molk realiza «desenhos molhados».

É necessário ter coragem para deixar que composições elaboradas com tanto esmero e traço bem delicado, perdulárias em tempo e em detalhes, sejam abandonadas à acção da água. Aliás, cheguei a comentar para mim mesma que, certamente, vários - até mesmo, um grande número de - desenhos não teriam conseguido sobreviver a tal procedimento. É pouco provável que se possa dirigir a água seja para a esquerda ou para a direita: o traço dissolve-se, perde seu rigor, tornando-se cada vez mais fluido e complexo. Às vezes, são fios de cabelo que se desprendem e formam uma espécie de crina. Outras vezes, dir-se-ia que são vestígios do tamborilar de uma chuva miudinha e torrencial que desagrega «o fio do traço»; no entanto, este fio permanece sempre presente, algumas vezes sob a forma de um vislumbre fantasma, quase alaranjado.

Com efeito, impõe-se falar a respeito de cor. Os desenhos são vermelhos ou, antes, de um vermelho - cor - de - rosa. Pensamos no sangue, por demais evidente, nas cenas de floresta apresentadas em “toiles de Jouy” [N. do T.: referência à cidade de Jouy-en-Josas, subúrbio sudeste de Paris, local onde foi instalada, em 1759, uma manufactura de tecidos estampados], essa é uma pista possível; ou na tinta das correcções, na indicação das notas positivas e negativas, no cor-de-rosa da correspondência dos apaixonados, no cor-de-rosa da inocência e, também, do intercorro sexual. Mas, finalmente, convém reter algo de agradável, ou seja, a delicadeza de um traço que «faz sangrar» o papel, como acontece no momento em que a borda de uma folha de papel, qual lâmina de barbeador, faz sangrar nosso dedo.

Uma folha pode conter a marca de gotas multicolores ou de halos estranhos. Até mesmo danificado, o desenho conseguiu sobreviver. Às vezes, o traço é retomado, colocado em destaque com um marcador, após a passagem da água: tentativa para contrariar a degradação, para restaurar a linha anterior, inicial. Estes desenhos passaram por várias experiências penosas, estão envelhecidos e sujos: trata-se de desenhos desgastados, maquilhados, que reivindicam nossa compaixão.

Marc Molk, nesta série de desenhos molhados, dá a impressão de sofrer de um "spleen rose", de uma doença da alma em meia-tinta. Uma alma que deixou de acreditar na conservação seja das coisas, seja dos seres animados. E permite que seus desenhos vivam o mesmo destino debaixo da chuva.

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