Janeiro de 2010
Antiga aluna da Ecole normale supérieure, formada em História da Arte, Eloïse Lièvre tem participado na elaboração de catálogos de vários artistas – cf. http://www.eloiselievre.fr/critique/
Uma vez que se deve falar, escrever, revestir com palavras, sachar e descrever, neste caso, convém levar em consideração, em primeiro lugar, a técnica utilizada, além de sua intrínseca melancolia, de seu aspecto «inundado com lágrimas»: Marc Molk realiza «desenhos molhados».
É necessário ter coragem para deixar que composições elaboradas com tanto esmero e traço bem delicado, perdulárias em tempo e em detalhes, sejam abandonadas à acção da água. Aliás, cheguei a comentar para mim mesma que, certamente, vários - até mesmo, um grande número de - desenhos não teriam conseguido sobreviver a tal procedimento. É pouco provável que se possa dirigir a água seja para a esquerda ou para a direita: o traço dissolve-se, perde seu rigor, tornando-se cada vez mais fluido e complexo. Às vezes, são fios de cabelo que se desprendem e formam uma espécie de crina. Outras vezes, dir-se-ia que são vestígios do tamborilar de uma chuva miudinha e torrencial que desagrega «o fio do traço»; no entanto, este fio permanece sempre presente, algumas vezes sob a forma de um vislumbre fantasma, quase alaranjado.
Com efeito, impõe-se falar a respeito de cor. Os desenhos são vermelhos ou, antes, de um vermelho - cor - de - rosa. Pensamos no sangue, por demais evidente, nas cenas de floresta apresentadas em “toiles de Jouy” [N. do T.: referência à cidade de Jouy-en-Josas, subúrbio sudeste de Paris, local onde foi instalada, em 1759, uma manufactura de tecidos estampados], essa é uma pista possível; ou na tinta das correcções, na indicação das notas positivas e negativas, no cor-de-rosa da correspondência dos apaixonados, no cor-de-rosa da inocência e, também, do intercorro sexual. Mas, finalmente, convém reter algo de agradável, ou seja, a delicadeza de um traço que «faz sangrar» o papel, como acontece no momento em que a borda de uma folha de papel, qual lâmina de barbeador, faz sangrar nosso dedo.
Uma folha pode conter a marca de gotas multicolores ou de halos estranhos. Até mesmo danificado, o desenho conseguiu sobreviver. Às vezes, o traço é retomado, colocado em destaque com um marcador, após a passagem da água: tentativa para contrariar a degradação, para restaurar a linha anterior, inicial. Estes desenhos passaram por várias experiências penosas, estão envelhecidos e sujos: trata-se de desenhos desgastados, maquilhados, que reivindicam nossa compaixão.
Marc Molk, nesta série de desenhos molhados, dá a impressão de sofrer de um "spleen rose", de uma doença da alma em meia-tinta. Uma alma que deixou de acreditar na conservação seja das coisas, seja dos seres animados. E permite que seus desenhos vivam o mesmo destino debaixo da chuva.
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